quinta-feira, 18 de abril de 2013

A Felicidade Possível



Só quem está disposto a perder tem o direito de ganhar. Só o maduro é capaz da renúncia. E só quem renuncia aceita provar o gosto da verdade, seja ela qual for.

O que está sempre por trás dos nossos dramas, desencontros e trambolhões existenciais é a representação simbólica ou alegórica do impulso do ser humano para o amadurecimento.
A forma de amadurecer é viver. Viver é seguir impulsos até perceber, sentir, saber ou intuir a tendência de equilíbrio que está na raiz deles (impulsos). A pessoa é impelida para a aventura ou peripécia, como forma de se machucar para aprender, de cair para saber levantar-se e aprender a andar. É um determinismo biológico: para amadurecer há que viver (sofrer) as machucadelas da aventura e da peripécia existencial.

A solução de toda situação de impasse só se dá quando uma das partes aceita perder ou aceita renunciar (e perder ou renunciar não é igual, mas é muito parecido; é da mesma natureza). Sem haver quem aceite perder ou renunciar, jamais haverá o encontro com a verdade de cada relação. E muitas vezes a verdade de cada relação pode estar na impossibilidade, por mais atração que exista. Como pode estar na possibilidade conflitiva, o que é sempre difícil de aceitar.

Só a renúncia no tempo certo devolve as pessoas a elas mesmas e só assim elas amadurecem e se preparam para os verdadeiros encontros do amor, da vida e da morte. Só quem está disposto a perder consegue as vitórias legítimas.

Amadurecer acaba por se relacionar com a renúncia, não no sentido restrito da palavra (renúncia como abandono), porém no lato (renúncia da onipotência e das formas possessivas do viver).

Viver é renunciar porque viver é optar e optar é renunciar.

Renunciar à onipotência e às hipóteses de felicidade completa, plenitude etc é tudo o que se aprende na vida, mas até se descobrir que a vida se constrói aos poucos, sobre os erros, sobre as renúncias, trocando o sonho e as ilusões pela construção do possível e do necessário, o ser humano muito erra e se embaraça, esbarra, agride, é agredido.
Eis a felicidade possível: compreender que construir a vida é renunciar a pedaços da felicidade para não renunciar ao sonho da felicidade.
Artur da Távola

terça-feira, 16 de abril de 2013

Aquele amor


AQUELE AMOR

Ela pertence à espécie de mulheres que possuem um só amor em toda a sua vida. Ou amam de verdade apenas uma vez. Seria espécie de mulheres ou a maioria assim o é, mesmo sem o saber?
Também há homens de eterno amor, embora o machismo e as deformações de sua cultura e comportamento nem sempre os convença de tal. Ou não convença a maioria. Ou será que o fato de serem colocadores de semente por determinismo biológico os leva a não prestar a devida atenção à sua destinação para o amor?
No meio da conversa ela diz, de repente, que só gostou de verdade de um homem e eis que vai buscar lá entre papéis amassados, daqueles que esturricam o couro das carteiras, não um mas três retratos dele, que espalha, qual cartas de baralho, sobre a mesa do restaurante. E fala dele com a mistura de ternura e tristeza que assaltam as mulheres que não lograram viver com o seu amor, casar-se com ele, ter seus filhos, viver em função dele e dela, unidos, pois esta é a verdadeira vontade e destinação da mulher: viver ao lado do verdadeiro amor.
Sim, elas vivem de modo proibido se necessário, casam-se com outro, têm filhos, os amam fundamente, mas a verdade de seu ser é a do amor verdadeiro, até porque mulher vive para amar e por amor, o resto se ajeita. Podem até deixar seu amor dormitar por anos e parecer serenado. Volta, porém a qualquer apelo ou menção do nome dele, encontro fortuito na rua com um conhecido dos tempos do namoro ou da relação.
Como são comoventes e lindas na sua integralidade bíblica as mulheres quando expressam para os demais ou para si mesmas, o amor de suas vidas ou quando consultam, escondido, os retratos guardados, recortes, flores secas, a memória úmida das restantes lembranças em momentos de silêncio e solidão!
Abençoados sejam, porque são, os homens e as mulheres que na passagem por esta vida receberam um dia de alguém, ou deram, um amor único, original e definitivo. Abençoados sejam e para todo o sempre. Como o amor que existe apesar de todas as ternas e dolorosas circunstâncias que não impedem a sua verdade mas em muitos casos esmagam a sua plena realização.
Artur da Távola

Artur da Távola

Hoje inspirada!!!!!!!!!!!!!!! Ploft!



Certos graus de amor só são perceptíveis a partir da impossibilidade de se exercerem ou da ameaça de não poderem jamais vir à tona.
Artur da Távola


O que volta depois de ter passado é porque nunca deixou de existir.
Artur da Távola




Freqüentemente sou compreendido por quem não me conhece e incompreendido por quem me conhece
Artur da Távola


Ter ou não ter namorado...






TER OU NÃO TER NAMORADO

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil.
Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado é quem não tem amor é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto.
Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira - d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.
Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.

(Nota: este texto não é de Carlos Drummond de Andrade)
Artur da Távola


sábado, 13 de abril de 2013

Medo

O texto abaixo não é meu, mas representa muito o que sinto e creio que a maioria dos portadores de CA.





Texto escrito por mim no dia 10/07/2012, retirado do meu blog: www.diariodeumleucemico.blogspot.com.br

Medo

Ontem, assistindo um capitulo de uma das tantas séries que eu acompanho, uma frase me chamou a atenção. A cena era a seguinte: dois paramédicos dentro de uma ambulância que foi vítima de outra ambulância, com a batida ela capotou e estava de cabeça para baixo, juntamente com os dois paramédicos. Presos ao cinto e devido aos ferimentos, eles não podiam sair. Como o acidente aconteceu praticamente na porta do hospital, vários médicos e enfermeiras se amontoavam em volta da cena. Os dois caras estavam apavorados, um deles, devido a gravidade dos ferimentos, acabou não resistindo, o que deixou o colega mais apavorado ainda. Então começa, uma médica se propôe a entrar na ambulância para realizar um procedimento - o qual não sendo feito nosso amigo entraria em óbito, e sendo feito, poderia ocorrer o mesmo – vendo o estado de desespero que o cara se encontrava, ela tentava acalmá-lo, pois ele não queria que o procedimento fosse feito. No meio daquele circo, ele confessou que estava com medo, e que não queria morrer com medo. Vendo a gravidade da situação, a médica escolhendo bem as palavras, disse que ele estar com medo era uma coisa boa, pois significava que ele ainda tinha alguma coisa a perder.
Fiquei com essa frase na minha cabeça. Ao contrário do que sempre me dizem, eu não me acho uma pessoa de coragem, não me considero uma pessoa forte, fico me sentindo uma fraude quando começam com esse discurso. Primeiro porque, qualquer um em uma situação de risco lutaria com todas as forças para viver, e segundo e o mais importante: eu sou a pessoa mais covarde da face da terra. Desde que descobri o câncer o medo dorme e acorda comigo todos os dias, eu simplesmente não consigo relaxar, tenho medo até de dormir, porque na minha cabeça atormentada, eu posso morrer dormindo e não ter a chance de ver outro dia. Sou ansioso, às vezes do nada, meu coração dispara como se estivesse para acontecer alguma coisa. Isso tudo tem nome, isso tudo é medo.
Mas pensando bem naquela frase, o medo pode não ser necessariamente uma coisa ruim. Posso até estar tentando justificar a minha covardia, mas se eu luto, é porque eu tenho um motivo para lutar. Já vi a morte tão de perto, que se eu não tivesse pesado os motivos para viver, eu tenho certeza que não estaria mais aqui. Eu tive chances de morrer, mas escolhi viver, e isso não deixa de ser um ato de coragem. Nessa minha jornada, eu descobri que morrer é fácil. A gente pode morrer atravessando a rua, com um tombo dentro de casa, engasgado com um caroço de azeitona, de câncer... Mas sendo a morte tão fácil, porque a gente luta tanto pela vida?
...
Pelos motivos, pelos nossos pais, nossos irmãos, namorada(o), amigos...
E no final, isso que realmente importa, termos a certeza de que no centro da linha que separa a vida e a morte, sempre haverá motivos de sobra para viver...

* A propósito, nosso amigo paramédico sobreviveu.













Na quarta-feira eu sai com minha amiga Ângela, nós temos o habito de sair uma vez por semana, pode chover canivete... que este dia é sagrado para nós... 
Nós saímos  para nos diverti, para rir de nós mesma, da outras pessoas, para falar da nossa semana... se compramos algo novo... bobagens do dia a dia que nós faz feliz...
Mas infelizmente este nosso encontro no final me deixou com medo. (e foi por esta razão que coloquei o texto do amigo diário de um leucêmico, com autorização)  Na realidade o medo mora em mim... na casa do fundo para que ninguém o veja... somente eu sei seu endereço.
Mas a noticia que recebi fez com que o inquilino  da casa dos fundos passasse para casa da frente..
Uma amiga nossa teve CA de colo de útero uns 10 meses antes da descoberta do meu... e apesar de no fim do ano os exames não acusarem nada... foi descoberto uma metástase... O calafrio me percorreu a espinha... amanha pode ser eu? Vai ser assim pelo resto da vida, uma vida inteira assim...mês a mês, ano a ano...
Todo vez que recebo a noticia de que o CA voltou ou que alguém perdeu a batalha... eu tenho dois sentimentos  opostos (devo ser bipolar, risos), primeiro fico angustiada porque posso ser a próxima, depois tenho uma vontade louca de gritar e falar que comigo vai ser diferente...
Mas o medo é constante e mora em mim....por varias vezes já sonhei que estava morrendo... (é uma sensação muito louca...) é aterrorizante...

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Uma amizade...

Ultimamente tenho sentido muita saudade de uma amizade... uma amizade de anos... mas que foi quebrada...até recolhi os cacos, colei... mas não teve jeito...
Eu gostava tanto desta amizade... melhor dizer que ainda gosto... mas não temos mais intimidade, não nos falamos, não trocamos e-mail, nem poesias, nem mensagens... simplesmente abriu-se um buraco negro...


Faz algum tempo que a gente não se fala, na ultima vez que nos falamos foi sem graça, sem sentido...
Nosso ultimo e-mail também, sem conteúdo... antes também muitos não tinham conteúdo, mas era da minha amiga... então era diferente.
Tudo era diferente... não tenho orgulho, poderia ligar, escrever... mas ainda esta faltando alguma coisa... esta faltando o click, espero que ele não demore, cada dia que passa fica mais distante...

Tivemos temos bons de colégio, de horas de conversas, de choro de risos...de frustrações...


Porque a gente deixa isto acontecer??? Deixa o amigo ir embora sem se despedir, deixa de falar, de expressar os sentimentos, deixa deixando...

Mas ainda não estou bem, não estou preparada... preparada para enfrentar a realidade de que talvez nossa amizade nunca mais volte, eu sei que vou chorar e sofrer... ainda tenho a ilusão que a nossa amizade pode ser como antes... 




segunda-feira, 8 de abril de 2013

Alteração no nome

Você percebeu que alterei o nome?
Talvez não, talvez sim...
De: Diário de uma guerreira para Diário de uma vida - Câncer de Mama

Mudei... Minha vida mudou...

Eu precisava mudar o nome do meu blog...

Não quero guerra, não tenho ninguém para atacar...

Estou tratando uma enfermidade... administrando... e  relatando aqui...

Hoje não estou muito bem para falar, mas eu conto amanha ou depois...

Só precisava alterar o nome. Aha!!! Não fiz antes porque não sabia onde fazer a alteração, risos. Demorou para eu achar onde fazer, rindo muito da minha falta de informação.

Beijos
Boa noite!



Eu, Você, Nós!

Boa noite meu querido!!!

Não sei como começar... talvez do começo seria mais fácil...ou do fim...
Talvez devesse falar dos anos que já se passaram... talvez... se não fosse o talvez seria mais fácil...

Talvez se você estivesse na minha frente fosse mais fácil... escrever as vezes causa confusão : falamos demais ou de menos (risos), ou ainda a interpretação dos interlocutores pode não estar na mesma sintonia...

Mas cheguei aqui... agora não posso voltar... e hoje como disse minha amiga " não sei se me levo ou se me acompanho "  risos.

Vou começar falando do nosso ultimo encontro... desculpa eu ser direta (ploft)
Eu estou confusa... por anos eu fui apaixonada... por anos pensei que era uma amor impossível; ou não correspondido.
Fiz um esforço enorme em transformar este amor em amizade...
E um dia... após algumas horas eu já não sei se realmente o que eu sinto por você é amizade? Ou se aquele que sempre morou em mim é o sentimento que eu sempre escondi.

Estou assim, não sei se vou ou se fico...

Talvez eu novamente esteja viajando... o que você me falou é o hoje??? Ou  foi no passado???  Não ficou muito claro ... Pode rir, eu sou assim mesmo, ora confusa outra ora mais confusa ainda (rindo).

O que sei é que fiquei desamurada, virada do avesso... (no bom sentido)

Não sei se quando vai ser possível, mas quero estar novamente com você, quero te tocar, quero beijar...(já deveria ter feito isto antes... ) Eu quero saber o que sinto, entende?
 
Vou entender perfeitamente se isto não for possível, verdade! A única coisa que precisar fazer é falar: Não vai dar. Ponto! Não é necessário explicações. 

Talvez não esteja entendendo nada, mas a vida para mim não precisa mais de grandes explicações, a vida é simples, basta a gente querer ou  não... 

Todos nós sabemos que vamos morrer um dia...mas as vezes a vida antecipa este dia ou te da um susto para que consiga  viver com mais qualidade, que devemos amar mais, se expor mais, se sentir ridícula, infantil, inocente...ser brega chic, ser tudo e não ser nada.  

Eu quero viver muito, mas talvez eu tenha só tenha 30 horas, 30 dias, 30 semanas, 30 meses, 30 anos... eu não quero deixar a oportunidade passar, não quero deixar para amanha o que eu posso falar hoje...não quero arrepender de não dizer, de não fazer...

Não preciso explicar !!!

Beijos na alma e no coração!