Texto escrito por mim no dia 10/07/2012, retirado do meu blog: www.diariodeumleucemico.bl ogspot.com.br
Medo
Ontem, assistindo um capitulo de uma das tantas séries que eu acompanho, uma frase me chamou a atenção. A cena era a seguinte: dois paramédicos dentro de uma ambulância que foi vítima de outra ambulância, com a batida ela capotou e estava de cabeça para baixo, juntamente com os dois paramédicos. Presos ao cinto e devido aos ferimentos, eles não podiam sair. Como o acidente aconteceu praticamente na porta do hospital, vários médicos e enfermeiras se amontoavam em volta da cena. Os dois caras estavam apavorados, um deles, devido a gravidade dos ferimentos, acabou não resistindo, o que deixou o colega mais apavorado ainda. Então começa, uma médica se propôe a entrar na ambulância para realizar um procedimento - o qual não sendo feito nosso amigo entraria em óbito, e sendo feito, poderia ocorrer o mesmo – vendo o estado de desespero que o cara se encontrava, ela tentava acalmá-lo, pois ele não queria que o procedimento fosse feito. No meio daquele circo, ele confessou que estava com medo, e que não queria morrer com medo. Vendo a gravidade da situação, a médica escolhendo bem as palavras, disse que ele estar com medo era uma coisa boa, pois significava que ele ainda tinha alguma coisa a perder.
Fiquei com essa frase na minha cabeça. Ao contrário do que sempre me dizem, eu não me acho uma pessoa de coragem, não me considero uma pessoa forte, fico me sentindo uma fraude quando começam com esse discurso. Primeiro porque, qualquer um em uma situação de risco lutaria com todas as forças para viver, e segundo e o mais importante: eu sou a pessoa mais covarde da face da terra. Desde que descobri o câncer o medo dorme e acorda comigo todos os dias, eu simplesmente não consigo relaxar, tenho medo até de dormir, porque na minha cabeça atormentada, eu posso morrer dormindo e não ter a chance de ver outro dia. Sou ansioso, às vezes do nada, meu coração dispara como se estivesse para acontecer alguma coisa. Isso tudo tem nome, isso tudo é medo.
Mas pensando bem naquela frase, o medo pode não ser necessariamente uma coisa ruim. Posso até estar tentando justificar a minha covardia, mas se eu luto, é porque eu tenho um motivo para lutar. Já vi a morte tão de perto, que se eu não tivesse pesado os motivos para viver, eu tenho certeza que não estaria mais aqui. Eu tive chances de morrer, mas escolhi viver, e isso não deixa de ser um ato de coragem. Nessa minha jornada, eu descobri que morrer é fácil. A gente pode morrer atravessando a rua, com um tombo dentro de casa, engasgado com um caroço de azeitona, de câncer... Mas sendo a morte tão fácil, porque a gente luta tanto pela vida?
...
Pelos motivos, pelos nossos pais, nossos irmãos, namorada(o), amigos...
E no final, isso que realmente importa, termos a certeza de que no centro da linha que separa a vida e a morte, sempre haverá motivos de sobra para viver...
* A propósito, nosso amigo paramédico sobreviveu.
Medo
Ontem, assistindo um capitulo de uma das tantas séries que eu acompanho, uma frase me chamou a atenção. A cena era a seguinte: dois paramédicos dentro de uma ambulância que foi vítima de outra ambulância, com a batida ela capotou e estava de cabeça para baixo, juntamente com os dois paramédicos. Presos ao cinto e devido aos ferimentos, eles não podiam sair. Como o acidente aconteceu praticamente na porta do hospital, vários médicos e enfermeiras se amontoavam em volta da cena. Os dois caras estavam apavorados, um deles, devido a gravidade dos ferimentos, acabou não resistindo, o que deixou o colega mais apavorado ainda. Então começa, uma médica se propôe a entrar na ambulância para realizar um procedimento - o qual não sendo feito nosso amigo entraria em óbito, e sendo feito, poderia ocorrer o mesmo – vendo o estado de desespero que o cara se encontrava, ela tentava acalmá-lo, pois ele não queria que o procedimento fosse feito. No meio daquele circo, ele confessou que estava com medo, e que não queria morrer com medo. Vendo a gravidade da situação, a médica escolhendo bem as palavras, disse que ele estar com medo era uma coisa boa, pois significava que ele ainda tinha alguma coisa a perder.
Fiquei com essa frase na minha cabeça. Ao contrário do que sempre me dizem, eu não me acho uma pessoa de coragem, não me considero uma pessoa forte, fico me sentindo uma fraude quando começam com esse discurso. Primeiro porque, qualquer um em uma situação de risco lutaria com todas as forças para viver, e segundo e o mais importante: eu sou a pessoa mais covarde da face da terra. Desde que descobri o câncer o medo dorme e acorda comigo todos os dias, eu simplesmente não consigo relaxar, tenho medo até de dormir, porque na minha cabeça atormentada, eu posso morrer dormindo e não ter a chance de ver outro dia. Sou ansioso, às vezes do nada, meu coração dispara como se estivesse para acontecer alguma coisa. Isso tudo tem nome, isso tudo é medo.
Mas pensando bem naquela frase, o medo pode não ser necessariamente uma coisa ruim. Posso até estar tentando justificar a minha covardia, mas se eu luto, é porque eu tenho um motivo para lutar. Já vi a morte tão de perto, que se eu não tivesse pesado os motivos para viver, eu tenho certeza que não estaria mais aqui. Eu tive chances de morrer, mas escolhi viver, e isso não deixa de ser um ato de coragem. Nessa minha jornada, eu descobri que morrer é fácil. A gente pode morrer atravessando a rua, com um tombo dentro de casa, engasgado com um caroço de azeitona, de câncer... Mas sendo a morte tão fácil, porque a gente luta tanto pela vida?
...
Pelos motivos, pelos nossos pais, nossos irmãos, namorada(o), amigos...
E no final, isso que realmente importa, termos a certeza de que no centro da linha que separa a vida e a morte, sempre haverá motivos de sobra para viver...
* A propósito, nosso amigo paramédico sobreviveu.
Na quarta-feira eu sai com minha amiga Ângela, nós temos o habito de sair uma vez por semana, pode chover canivete... que este dia é sagrado para nós...
Nós saímos para nos diverti, para rir de nós mesma, da outras pessoas, para falar da nossa semana... se compramos algo novo... bobagens do dia a dia que nós faz feliz...
Mas infelizmente este nosso encontro no final me deixou com medo. (e foi por esta razão que coloquei o texto do amigo diário de um leucêmico, com autorização) Na realidade o medo mora em mim... na casa do fundo para que ninguém o veja... somente eu sei seu endereço.
Mas a noticia que recebi fez com que o inquilino da casa dos fundos passasse para casa da frente..
Uma amiga nossa teve CA de colo de útero uns 10 meses antes da descoberta do meu... e apesar de no fim do ano os exames não acusarem nada... foi descoberto uma metástase... O calafrio me percorreu a espinha... amanha pode ser eu? Vai ser assim pelo resto da vida, uma vida inteira assim...mês a mês, ano a ano...
Todo vez que recebo a noticia de que o CA voltou ou que alguém perdeu a batalha... eu tenho dois sentimentos opostos (devo ser bipolar, risos), primeiro fico angustiada porque posso ser a próxima, depois tenho uma vontade louca de gritar e falar que comigo vai ser diferente...
Mas o medo é constante e mora em mim....por varias vezes já sonhei que estava morrendo... (é uma sensação muito louca...) é aterrorizante...
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